Andressa Zumpano é fotojornalista, documentarista e comunicadora popular, maranhense baseada em Brasília, DF. Atua no setor audiovisual de comunicação da Comissão Pastoral da Terra e Pastorais Sociais, acompanhando o contexto de povos e comunidades tradicionais em situação de conflito agrário no Brasil.  Documenta os modos de vida dos povos e comunidades tradicionais desde 2014, destacando os processos de resistência e bem viver. Já colaborou como repórter freelancer em agências de notícia como: El País  Brasil, Agência Pública, Revista Claúdia, Brasil de Fato, Fundo Brasil e Direitos Humanos e National Geographic.
DO CINZA SE FEZ VERDE
A luta dos trabalhadores rurais de Negra Velha
No final de 2017, os trabalhadores rurais da Gleba Negra Velha, em Luís Domingues-MA, foram expulsos de seu território por jagunços envolvidos em processos de grilagem de terras. Na região existe um grupo de grileiros que promovem a extração de recursos vegetais e minerais na área. O território se localiza no berço da Amazônia legal maranhense, sendo conhecida área de extração ilegal de madeira e garimpos.
Desde o ano de 2017, diversas ações intimidatórias, bem como o uso de violência, já foram aplicadas por esse grupo, que se diz proprietário da terra. No dia 4 de janeiro de 2018, uma das pretensas proprietárias da terra, provocou uma ação possessória não sentenciada com o apoio da Polícia Militar (PM), ateando fogo em casas de trabalho e morada dos lavradores. Nesse dia, dois trabalhadores foram presos arbitrariamente, e ficaram por 24 horas na Delegacia de Carutapera-MA, algemados em pé, sem água e comida. Sendo que um destes lavradores é idoso, e chegou a passar mal durante a prisão.
São cerca de 50 famílias que tiveram suas roças e casas de trabalho incendiadas, perdendo toda a produção daquele ano e a possibilidade de tirar seu sustento e alimento do território em que viviam. Durante um ano, trabalhadores tiveram seu acesso à área negado devido às fortes ameaças e presenças de jagunços no local.
No início deste ano, os trabalhadores decidiram retornar à terra. Com a ausência do Estado na resolução do conflito, todas as famílias que haviam sido expulsas do território voltaram e reconstruíram suas residências e áreas de lavoura. Tudo o que havia sido destruído se fez verde novamente. Mesmo sem nenhuma resolutiva legal do conflito, a retomada do território demonstra a potência da luta dessa comunidade em defesa do seu bem-viver.
Luis Domingues, Maranhão

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