No dia 07 de junho de 2020 milhares de brasileiros e brasileiras foram para as ruas, em meio a uma pandemia, para soltar o grito há muito engasgado e abafado na garganta. Somos um país que teve mais tempo em sua história como uma nação escravagista do que temos de um Brasil sem escravidão. Será mesmo que abolimos a escravidão? Será mesmo que foi possível ruir com os mais de 300 anos de uma cultura tão cruel e violenta com o povo negro? As ruas neste domingo provam que não. Na verdade, estamos longe disso.
O povo negro sofre com o racismo, com a violência policial, com a falta de acesso e oportunidades e com todo o tipo de violência possível. Pensamos que se aglomerar em um protesto em plena pandemia, é mais do que qualquer outra coisa, lutar pela vida. Por vidas que estão sendo tiradas diariamente há muito mais tempo do que a Covid. Talvez seja hora de olhar de frente os nossos problemas e encarar a maior epidemia brasileira e que mata mais do que qualquer doença: o racismo. Um dos principais genocídios cometidos contra o nosso povo, só agravado com a chegada da pandemia e os novos crimes cometidos pelo Estado contra a população.
Criamos aqui um ensaio coletivo na tentativa de montar uma narrativa imagética que dê conta de toda a potência deste dia. São trabalhos de mulheres fotógrafas em cinco capitais brasileiras: Brasília, Belo Horizonte, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo. É a história sendo contada e construída pelo olhar das mulheres. Participam dessa construção as fotógrafas Andressa Zumpano, Bruna Manga, Bruna Prado, Ester Cruz, Isabel Praxedes, Julia Dolce, Juliana Pesqueira, Nadia Nicolau e Thais Mallon.